terça-feira, 17 de março de 2009


O teu riso Tira-me o pão, se quiseres,tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.Não me tires a rosa,a lança que desfolhas,a água que de súbito brota da tua alegria,a repentina onda de prata que em ti nasce.A minha luta é dura e regresso com os olhos cansados às vezes por ver que a terra não muda,mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me e abre-me todas as portas da vida.Meu amor, nos momentos mais escuros soltao teu riso e se de súbito vires que o meu sangue mancha as pedras da rua,ri, porque o teu riso será para as minhas mãos como uma espada fresca.À beira do mar, no outono,teu riso deve erguer sua cascata de espuma,e na primavera , amor,quero teu riso como a flor que esperava,a flor azul, a rosada minha pátria sonora.Ri-te da noite,do dia, da lua,ri-te das ruas tortas da ilha,ri-te deste grosseiro rapaz que te ama,mas quando abro os olhos e os fecho,quando meus passos vão,quando voltam meus passos,nega-me o pão, o ar,a luz, a primavera,mas nunca o teu riso,porque então morreria.Pablo Neruda

Sem comentários:

Enviar um comentário